Cosmoson

 Primeiro Capítulo.

 

Esta historinha inicia em 1958 quando meu primo Toninho quis comprar um som. Lembro-me bem que foi em 1958, pois transcorria a Copa do Mundo na Suécia e se ouvia tudo pelo rádio com um “fading” danado pois não havia ainda satélites para comunicação. O rádio ia decaindo até v. ouvir apenas estática. Televisão ? Só depois que os filmes viessem para cá.

 

Naquela época o mercado era mal abastecido o que deixava brecha para certas pessoas entrarem no mercado e participar de forma efetiva. O Jornal do Brasil era líder em anúncios e um determinado fulano, anunciava uma “Vitrola –K” construída ao gosto do cliente. Como o Toninho queria comprar uma, pediu-me para acompanhá-lo e trocar algumas opiniões. Fomos até o endereço do “fabricante”, que ficava num fundo de vila da Rua Ana Néri. Lá vimos que o construtor era um “marceneirotrônico” ou um “eletromarceneiro”. Na verdade ele construía um único móvel universal padrão e de amplas dimensões, destinado a adaptar vários tipos de rádios e vários tipos de toca-discos.  Naquela época eram comuns excelentes rádios de excedente de guerra de procedência americana, tais como o Scott, National, Hallicrafters e outros, além de chassis prontos ou para montar da italiana Geloso, da Francesa Colonial (com a não encontrável válvula 6E8), da Sueca Torotor e os kits brasileiros da Diamond , Filofon , da Argentina Douglas etc. Os toca discos disponíveis eram o Garrard. O Collaro ,o Webster,o AGA, e os nacionais, VM-Standard-Electric e o Eltronmatic.

 

Quem não dispusesse de rádio/amplificador, este Sr, oferecia dois tipos de rádio/amplificador montados no mesmo chassis. Sempre com bobinas Lumor de duas faixas usando 6K8 na conversão, 6K7 na FI.

O amplificador podia ser um simples com 6Q7/ 6V6 ou um 2X 12AX7 2X 6V6 usando o conhecido circuito “Fidelinho” da EASA . Retificadoras 5Y3 ou 5U4. tudo com opção de olho mágico 6E5 ou 6U5. Pré-amplificador com 6SC7 para relutância variável no modelo de saída simples. Transformadores Lusito e Alto-falantes Pena-Simon.

Meu primo optou pela versão Fidelinho com toca-discos Collaro e cápsula GE VR1.

Com este sistema ele conviveu até 1965.

 

O rádio nada tinha de mais, mas o amplificador era bom e competia com os modelos comerciais da Standard Electric, da General Electric, da Invictus, e de outras marcas famosas de seu tempo, era imponente, e muito mais barato. Na verdade o uso de válvulas de série antiga já em desuso, a escolha do material empregado e a produção do móvel “In-loco” favoreciam a queda de preço, outros fatores eram a produção artesanal sem empregados, e a ausência de uma firma com custos fixos. Tudo era produzido em casa. Não eram precisos contador, aluguel, impostos etc.

Conheci mais duas vendas feitas na mesma época e no mesmo ano deste mesmo equipamento. Uma foi vendida a outro primo José que acabara de se casar. Mesmo rádio com amplificador “Fidelinho” com toca discos Eltronmatic. Mais tarde transformei o áudio desta para 6L6 usando um diagrama da Thordarsosn com transformador EASA. A outra foi de meu vizinho e companheiro Luis que usou um Radio “Diamond” com sete faixas de onda, com amplificador “Electronic” toca discos e alto falante “Sincro”. Nada melhor em termos nacionais da época.

 

Esta era a aparência do equipamento de 1958... a “Eletrola K” ...Lembre-se que o desenho foi feito de memória a computador.

 

 

O móvel era oferecido em Marfim, Imbuia, Canela ou numa decorativa mistura de madeiras.

 

 

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Segundo Capítulo.

 

Após anos de uso, Toninho resolveu entrar na era estereofônica. Era 1965, ano do 4º centenário da Cidade do Rio de Janeiro. Ele mesmo comprou o conjunto Cosmoson ST-20 com o pré-amplificador equalizador PA-18 e os filtros divisores DF-1.

 

Ele mesmo preparou o novo painel frontal do móvel, elevando rádio numa nova plataforma interna, e criando um espaço abaixo para receber o novo amplificador, agora para receber os dois chassis e também mandou trocar a cápsula do Collaro por uma nova VR-22.

 

A intenção era: Manter o rádio como estava e colocar o toca-discos em estéreo com o conjunto Cosmoson. Após ter terminado toda a estrutura mecânica, ele me chamou para ver a obra e colocá-la para funcionar.

 

Este era o conjunto Cosmoson adquirido pelo Toninho.

Amplificador Cosmoson ST-20

 

Pré-amplificador Cosmoson PA-18 e dois divisores Cosmoson DF-1

 

Aqui temos os diagramas dos elementos componentes da cadeia Cosmoson.

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Os divisores muito simpáticos com a caixa pintada em tinta cristal verde escuro e dois leões com a coroa, eram caixinhas tentadoras para se ver o que tinha dentro. Abri uma delas e achamos dois capacitores eletrolíticos Rubicon de 10+10uF x 25V e a bobina de núcleo de ar (que jamais podem saturar) de 0.16 mHy. Corte em 1200Hz.

 

Ainda faltavam os alto-falantes e as caixas acústicas. Na rua Voluntários da Pátria tinha um alemão numa galeria próxima a rua Real Grandeza que iniciava a produção dos primeiros amplificadores transistorizados em kits. Utilizava o que tinha de mais moderno na época: - transistores franceses Planepoxi Sopelec – Jamais vi estes transistores em outro lugar!  E saída 2x OC26. Ele mandava fabricar umas caixinha bem simpáticas com pórtico tipo bass-reflex, forradas externamente em folheado de madeira imitação de jacarandá e internamente com absorvente acústico, mas vinham sem alto-falantes.   Os falantes sempre com 16 Ohms (na época eram encontráveis) foram comprados na lojinha do Diniz na rua S. Clement: Dois Novik de 12” e dois tweeters Cibeal de 5”, todos com o famoso Alnico V ! Tínhamos completado a cadeia.

 

Desta forma ficou a aparência do conjunto:

 

Precisávamos colocar o “bruto” a funcionar. A primeira tentativa usou esta configuração:

 

 

Nenhum problema com esta configuração. O toca-discos operava através do amplificador estéreo e o radio tinha todo um sistema separado. Muito bem, lembro-me que tudo durou uma semana. O Toninho queria porque queria u canal central. Afinal de contas o canal central já estava ali mesmo na caixa do “conjunto K”. Por que não fazê-lo operar?  Nesta ocasião optei pela solução mais simples: fomos à uma loja de ferragens perto de casa e compramos uma chave de faca dupla pequena. O que fazia com que se escolhesse a função do alto falante central, O Pena-Simon. A chave ficava escondida na lateral trazeira direita e interna do gabinete, afinal era muito desagradável ver aquela chave de baquelite marrom aparecer. Lembro-me da marca.. “Eletrônica” com um “E” manuscrito.

 

Aqui temos a chave:

 

 

Aqui temos a forma de ligação utilizada:

 

 

E aqui temos o circuito como ficou:

 

 

 

Na verdade ele não ficou. Não demorou uma semana para levar um “esporro” do pai dele. Isto porque o rádio antes funcionava e toda a vez que o pai dele ligava o rádio ficava mudo, pois a chave estava ao contrário. Nessa jogada toda o Toninho ficava de “boi de piranha” mas a coisa era divertida. “Coloca tudo como estava!” bradava o tio Antonio. O Toninho queria o canal central. Em casa eu também levava as sobras da fofoca é lógico. E ai entra o terceiro capítulo.

 

 

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