Eng. L Paracampo
Introdução
Com o desejo de expressar minha opinião pessoal
descrevo conclusões baseadas em anos de experiência
e acompanhamento, De acordo com as minhas
observações quanto ao comportamento de mercado nos
últimos tempos, e levando em conta a minha
formação técnica na área de engenharia de
projetos, e a minha experiência como economista de empresa e
estudioso historiador na área da técnica
fotográfica, oriento-me para as seguintes conclusões:
1- O mercado analógico ainda
não foi devidamente explorado pelas empresas, em seus
vários segmentos.
Isto é facilmente
detectável, pois uma simples observação das
potencialidades da fotografia em si, vemos que a mesma não
está devidamente difundida em seus vários segmentos.
Assim, não se vê comumente a utilização da
verdadeira fotografia
panorâmica,
da fotografia em
alta velocidade,da
fotografia em
distancias
próximas, da
macro
e
micro fotografia, das
telefotografias, das fotografias de
detalhes,das
foto montagens, da fotografia
infravermelha e
ultravioleta, da
estereoscopia, das
tecnologias alternativas, das
experimentações em
processos
históricos, das
viragens
em cores e das
câmaras
de alta performance. E muitos outros campos.
2- Ainda imaturo, em questão de
utilização na sua plenitude, vemos uma nítida
migração forçada para o sistema digital.
Podemos nitidamente verificar que as revistas propalam a morte do filme
convencional, ainda num processo de gestação de uma nova
tecnologia não totalmente comprovada. Lembro aqui que os maus
resultados fortuitos obtidos por fotógrafos inexperientes,
serão fatalmente repetidos na nova técnica e que
a técnica de uma boa fotografia
não está na técnica do processamento da imagem mas
da sensibilidade e conhecimento do fotografo.
Não vamos aqui discutir as características
técnicas de um ou outro sistema nossa focalização
é analisar histórica e tecnicamente o evoluir do mercado
ao longo dos anos.
3- A mídia fotográfica
exclui muitos produtores de nível para demonstrar apenas
alguns produtos comerciais de massa, que geram propaganda e receita
para estes mesmos meios.
Com o surgimento da fotografia, em Agosto de 1839, imediatamente
constatou-se a enorme demanda que o anúncio dessa nova
técnica causou. No dia seguinte do anúncio nos
jornais franceses, a quantidade de compradores para o novo produto foi
espantosa. Desde então se formaram empresas para
exploração deste segmento de mercado, sempre atentas aos
desejos dos compradores, tentando ao máximo agradar a clientela
para a obtenção de mercado. E assim foi até o
final dos anos 50. A orientação dos fabricantes
era: formar e educar os potenciais fotógrafos. Notamos que
toda a literatura técnica de peso, praticamente desapareceu a
partir do final dos anos 60. As revistas fotográficas perderam
seu cunho de formação técnica de base e
informação geral, passando a serem meros meios de
propaganda. Até revistas de cunho internacional, tiveram (e tem)
redatores de nível tecnológico discutível ocupando
cargos de influencia. Um simples paralelo, qualquer um poderá
traçar para com a musica popular difundida, que: - Valha-me
Deus, é de uma qualidade....
4- A parir do final dos anos 40,
começou-se a delinear um novo perfil das relações
produtor consumidor.
O término da II Grande Guerra encontrou empresas falidas
porém com grande acervo de instalações, e
mão de obra extremamente barata. Os paises vencedores, e
que dispunham de grandes recursos econômicos, , leia-se Estados
Unidos, passou a comprar produtos dos demais paises fornecedores, que
devido ao peculiar perfil do Japão como grande potencia
industrial. (lembre-se que no pré-guerra, o potencial industrial
japonês era tão grande que estes ousaram declarar
guerra aos americanos). Passou este pais a fornecer equipamentos
fotográficos especialmente preparados para este enorme
mercado quase insaciável. Consta nos anais do exercito Americano
de ocupação que uma câmara Nikon do primeiro
modelo, era vendida no Japão ao equivalente a 10 dolares!
5- O perfil estrutural dos
países produtores foi abalado pela nova ordem do sistema
econômico vigente.
Os paises que fabricavam estes aparelhos e produtos fotográficos
em ampla escala, eram exatamente os paises desenvolvidos ou
sejam, exatamente aqueles paises que se envolveram na II Grande Guerra.
Alemanha, Inglaterra, França, Itália, e Rússia. Os
Estados Unidos, não possuíam mão de obra
categorizada portanto os produtos americanos, sempre estiveram num
nível mais baixo, e as poucas tentativas em câmaras de
alto nível, não foram exitosas Ektra, Kardon, Detrola
Foton, Ansco Reflex etc.
6- O grande capital mobilizador
do sistema produtivo Americano, passou a investir maciçamente
num único país.
O propício perfil japonês de mão de obra
especializada, conjugada com o baixo custo de remuneração
do operário e os previlégios agraciados aos produtores,
bem como a implantação do plano Marshall, atraíram
os capitais Norte Americanos que passaram a produzir no
Japão, e obter lucros bem acima dos até
então usuais.
A partir deste ponto, houve uma
drástica mutação do mercado. Os países mais
fracos, industrialmente, perderam de imediato a sua indústria, o
caso da Itália e França, logo a seguir a Inglaterra. A
Alemanha lutou mais um pouco, e tentou permanecer no mercado
através de produtos de altíssima qualidade e
preço, mas a fórmula não funcionou, a tentativa de
produzir produtos baratos também não funcionou pois a
qualidade destes era muito abaixo dos níveis que o
comprador tradicional estava acostumado. Resultado; a Morte dos
menores estava decretada.
7- O mercado passou a ser direcionado
para um novo rumo.
Todo este evento mudou mais drasticamente o mercado, do que aparenta
á primeira vista. De uma enorme quantidade de produtores
disseminados no mundo, tentando atrair compradores, pela
satisfação de seus gostos, e suas personalidades,
passamos a ter alguns poucos fabricantes que passaram a
monopolizar a mídia e impor o que era mais fácil
para eles produzir às expensas da qualidade e real utilidade do
produto. E sobretudo a vender uma “imagem criada” e irreal da “mais
alta qualidade”.
8- Produtores de equipamentos mais
sofisticados, foram obrigados a se especializar e fornecer apenas para
uma elite, reduzindo seus horizontes de expansão.
Pouquíssimos produtores de
equipamentos especiais continuaram sobrevivendo agora não mais
voltados para o amador mas apenas ao profissional conhecedor que
não pode deixar de ser suprido de equipamentos especiais.
Citamos aqui muitos exemplos Mamiya, Toyo, Wista, Hasselblad Linhof,
Phase–One e muitas outras que são desconhecidas no mercado
de amadores. E até dos “profissionais” que só conhecem as
câmaras de amadores.
9- O grande Cartel formado, procurou
eliminar os potenciais concorrentes.
Durante este processo de massificação e nitidamente de
cartelização produtiva, o sistema cuidou de inviabilizar
economicamente a produção dos países
tradicionais que citamos anteriormente imediatamente, agrediu a
industria da então Alemanha Oriental, que se mostrava bastante
influente porém não conseguiu dissolver uma outra
industria que se mantinha poderosa e influente, a industria Russa, que
além de estar atenta aos desejos dos consumidores, tinha bons
preços e estava protegida do cartel externo, em
função da estrutura econômica vigente em seu
país. Estrategicamente o Cartel passou a
investir em novas tecnologias, claramente
com o intuito de propaganda, buscando novos consumidores que
nada tinham em comum com a fotografia, aparecendo como produto
novo alheio ao alvo da fotografia como elemento didático e
concomitantemente através da desinformação,
depreciando a qualidade dos produtos concorrentes que poderiam suscitar
demanda. Também inflando o mercado com consumidores fora dos
estritos padrões vigentes até os anos 50, com
nítidos interesses em gerar lucros extraordinários. Este
comportamento exercido pelos “cartelizadores” vem demonstrar que o
mercado fotográfico, é semelhante ao mercado de
Música e de Instrumentos Científicos, é
nitidamente um
mercado
inelástico onde a teoria orienta que
alterações fortes só vem a trazer prejuízo
para todos. A comprovação esta aí para que
todos a vejam.
Situação atual:
Neste estagio dos acontecimentos,
aparece a industria Chinesa que passa a produzir agora a preços
extremamente competitivos e o Cartel, não pode mais resistir em
sua posição. A sede de lucros do Cartel, durante todos
estes anos, inflacionou internamente seus próprios insumos
produtivos e dificultou a sua própria expansão. Com o
intuito de manter-se como alto status, e na impossibilidade de eliminar
o adversário através do damping de custos, passam estes a
implantar um novo sistema, (digital) alardeando falsas vantagens ao
processo e omitindo suas limitações, ao mesmo tempo vem a
denegrir o já existente (analógico) e falsamente prevendo
a morte do filme. Isto é seguramente o “Canto do cisne” do
Cartel dominante, tentando postergar sua própria
falência. Processo semelhante em menor escala, viu-se na
industria alemã no final da década de 60 inicio dos anos
70.
Analisemos este argumento.- Morte do
filme-. À frente desta afirmativa estão a Kodak a
Nikon e a Canon. (Até ultimamente menos) A primeira fechou a
fabrica de filmes amador nos Estados Unidos , Alemanha,
França, Inglaterra e Austrália. Leia-se basicamente
Kodachrome, que já tinha suas vendas baixas e algunns outros
também devido ao boicote não só Europeu mas
até mesmo na América do Norte, devido a estranhos
comportamentos da empresa para com os consumidores, revendedores,
comerciantes e concorrentes. Este produto (Kodachrome) também
exige laboratórios especiais que oneram o operacional do
sistema.e foi também boicotado pelos laboratórios devido
ao relacionamento pouco amistoso entre laboratório
fabrcante e excesso de reclamações de clientes. Os
demais filmes profissionais desta empresa, perderam seu lugar
para outros fabricantes Fuji, Agfa, Ferrania etc. No entanto
estão estes mesmos arautos, leia-se Kodak, inaugurando uma
enorme fabrica na China, obviamente visando engrandecer seus ganhos, e
diminuir seus custos fixos em sua estrutura atual.
Note-se que apesar da Fuji já
possuir uma série de câmaras digitais, esta nunca
nada falou sobre o desaparecimento do filme. A Nikon e a
Canon estão acabando com as point and shoot Primeiramente
estas câmaras que eram fabricadas para o mercado dos não
fotógrafos, eram produzidas por terceiros e somente
inflavam o mercado. Seu valor de revenda com marcas de “griffe”
altíssimo, porém com índice de
defeitos imenso, e valor de revenda próximo de zero.
As reclamações tantas que não há mais
espaço para a fabricação e venda por
preços tão altos. Os chineses produzem as mesmas
câmaras nas mesmas fábricas, porem sem estas marcas
famosas, por apenas uma fração do preço. Estes
nomes famosos também não são pioneiros nem experts
nesta nova técnica digital que na verdade foi iniciada pela
Sony, Panasonic, Epson etc, estas máquinas digitais vieram
originalmente com o destino de serem auxiliares de imagem em
computadores, E assim o são até hoje.
O fato curioso é que apesar da
aceitação (com reservas) do equipamento digital, como
novidade, o índice de devolução após o uso,
bem como o nível de rejeição à nova
tecnologia é considerável. E muitos ate desistem da
fotografia convencional sem jamais entrar na fase digital.
Em 1954, o Sr. David Sarnoff ,
presidente da RCA Corporation apresentou publicamente pela primeira vez
o Vídeo-tape e anunciou a imediata morte do cinema.
Estamos com o cinema até hoje, e grupos de fórum
fotográficos de experimentadores como o IDCC aceita com
reservas o sistema digital, comparando-o até a uma caixa
de fósforos . “One way use”. Outros se manifestam
contrários ao sistema digital. O vídeo digital já
esta em uso há algum tempo, usuários que possuem
vídeos há menos de 15 anos já tem seus
registros perdidos enquanto que os antigos 8 e 16 mm seguramente
estão durando muito mais. Obviamente este mesmo senão
está presente na fotografia digital ,mas somente o tempo que
irá provar.
Resultado:
Ambos processos hão de
conviver por muitos anos, mormente em se considerando a
limitação, dificuldade e abrangência da
técnica digital em muitos pontos realmente importantes para o
verdadeiro usuário da fotografia. Usos e destinos diferentes,
terão suas aplicações mais convenientes.
A propósito: Quando do advento
da fotografia, discutia-se o término da pintura como arte.
A época do advento do
automóvel discutia-se a morte da
tração animal. Nas fazendas, o boi ainda é um meio
eficiente de transporte de carga e o hipismo está aí para
provar que o carro esporte não compete com a arte do cavalgar.
Considerando-se a
inflação de mercado com máquinas destinadas a um
público alheio à fotografia, temos agora a chance de
retomar o verdadeiro caminho que perdemos nos idos dos anos
50. Isto é, nos atrasamos 54 anos na difusão e no
conhecimento da verdadeira fotografia.