Interessante notar que a Rússia propôs como padrão generalizado, o 35mm como fotografia de massa bem antes dos demais produtores. E já antes do inicio da conflagração da 2ª Guerra Mundial,  tinham eles alcançado maior quantidade destas unidades produzidas do que todos os paises ocidentais.

 Erohina 1927 (Foto-Goz)

Esta foi a primeira câmara  de concepção original desenvolvida e construída no período soviético , bem como a primeira câmara soviética a usar película fotográfica (filme em bobina). Seu construtor foi A.Erohina (1927), Além de ser uma câmara projetada para películas de 35mm, para 50 poses, já no formato 24X 36mm, foi esta câmara , em seu projeto, única e pioneira em escala mundial uma vez que, conjugava as qualidades da Ermanox em 4,5x6cm reproduzindo agora em miniatura a famosa Ernostar, precursora das Sonnares, com as câmaras de fole de grande formato da época, tendo ela fole embutido para dupla extensão, permitindo a macrofotografia e a alta luminosidade a um só tempo, O foco se fazia em vidro mate e o plano de focalização era substituído pelo magazine articulável com a película. Sua objetiva tinha a distancia focal de 60 mm, e a abertura relativa 1:2 . A extraordinária relevância do fato deve-se que a indústria soviética na época, partiu da produção das câmaras de chapa imediatamente para o 35mm, sem passar pelos estágios de filme em rolo, antevendo pioneiramente o futuro sucesso do formato.

Veja aqui documentação da primeira época

APRESENTAÇÃO DA OBRA  

Estamos aqui condensando dados históricos sobre a formação da Fábrica FED, que indiscutivelmente representa um marco na história da industria mundial numa serie de quesitos jamais abordados. Nesta, os elementos sociais foram priorizados com diretos ganhos para o País. Primeiramente, como elemento constituidor de alta tecnologia, para o País, em seguida como meio de educação, formação profissional, em conjunto com elevação de nível cultural e de conhecimentos gerais para uma grande massa de pessoas, embutindo o encaminhamento de menores para o futuro; menores estes sem lar, família ou abandonados. Esta prática  produziu naturalmente ao país, sem qualquer necessidade de força ou repressão,  ordem interna, disciplina e desenvolvimento.

Nosso objetivo na apresentação desta história,  é chamar a atenção do leitor ao fascínio exercido por um planejamento sério de caráter Nacional, mormente aos amantes da fotografia e de câmaras fotográficas e objetos mecânicos em geral, que com os elementos sociais descritos no parágrafo anterior, conduziam a  empresa a suprir inicialmente o mercado interno com  um produto  sério e de alta qualidade, essencialmente  accessível a todos os cidadãos.

A alta tecnologia, por si só já é fascinante, associada ao planejamento, torna-se deslumbrante; sejam pelas metas alcançadas e os frutos inventivos e de conhecimento que proporcionam em seu trajeto de formação, sejam pelos avanços sociais que proporcionam.

A fábrica FED (Felix Edmundovich Dzherjinsky) foi criada no segundo Plano Qüinqüenal Soviético em que se planejavam não somente a total independência industrial e tecnológica do ocidente, mas também a produção dos melhores produtos finais em todos os níveis a serem oferecidos em escala mundial. Toda esta eufórica retórica, proporcionou uma imensa geração de cérebros responsáveis nos anos seguintes ao imenso desenvolvimento da Nação.

O autor, vem aqui a expor dados de conhecimento dos industriais da área, mas que todavia não são do público em geral. Damos ênfase à coerência de produção que visava satisfazer o consumidor final que passava a ter um produto final de alta qualidade, de grandes potenciais e a um custo final bem reduzido, portanto, útil para o seu próprio desenvolvimento mental e psicológico, rendendo num povo socialmente mais integrado. As ilustrações vindas de várias fontes, bem demonstram nossas suposições. 

- ENFOQUE

Esta pequena obra se divide basicamente em  três  partes.

Na primeira parte mostramos um resumo da implantação da FED como unidade produtora e suas administrações com ilustrações do sistema paralelo para ela desenvolvido, e as “crias” geradas até o inicio da 2ª Grande Guerra Mundial.

Noutra parte demonstramos a evolução do pós Guerra com a expansão através da FED-Zorki, Zorki e Zenit. Neste  segmento apresentamos também outros projetos independentes russos que seguiram a mesma filosofia.

Num capítulo inserido entre as partes, sugerimos a implantação de um sistema produtivo semelhante, para o qual já possuímos o protótipo operacional e os meios de gerar os insumos necessários. Incluímos fotos do produto final, explodido e fotos das peças componentes a título de demonstração. A implantação fabril deste item seria muitíssimo interessante para a geração de uma indústria de precisão de âmbito nacional, geradora de divisas, e mais importante, geradora de novos cérebros. Estes novos centros produtores,  naturalmente afastarão a violência de nossas áreas urbanas, uma vez que integrarão socialmente o povo de baixa renda, com unidades fabris, escolas, universidades e centros de estudo, comércio e industria em todos os níveis, assim como organizações administrativas e filantrópicas.

Importante:

Neste contexto, apresentamos a câmara HEDRA de alta classe. Esta possui projeto único e inédito, é de total concepção e desenvolvimento do autor deste fascículo, possui todos os componentes constituídos por materiais convencionais e a sua montagem não exige pré-treinamento com alta especialização, engajando imediatamente jovens no processo da fotografia e excitando suas mentes para novos modelos e projetos.  Conheça-o nas paginas seguintes. 

- OBJETIVO:

Esta obra e seu o projeto básico tem por fim, em sua descrição, motivar através do fascínio exercido pela criação e pela produção, desenvolvimento e adaptação,  dirigentes realmente interessados não somente no progresso pessoal , mas também o saudável relacionamento de novos indivíduos na sociedade apresentando novas oportunidades e abrindo as mentes para um futuro melhor.

    Envolvendo cada elemento engajado no processo criativo.

    Formando continuadamente gerações de especialistas.

    Gerando fortes e estáveis relações entre as entidades integrantes.

    Sentindo e interpretando as reações dos consumidores

   Satisfazendo a estas aspirações.

A Comuna Dzerzhinsky:
Nascimento da Indústria Soviética de Câmaras de 35mm

por Oskar Frieke

Publicado em HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA, VOLUME 3, NÚMERO 2 de Abril, 1979

Autoria: Oskar Frieke .Gentilmente cedido por: Yuri Boguslavsky. Texto original em: http://www.fedka.com/Useful_info/Commune_by_Fricke/commune_AP8.pdf .

Traduzido e documentalmente expandido por Luiz A. Paracampo.

Para um estudo completo e detalhado das variações de FED originais e FED-S, FED-ZORKI e ZORKIs recomendamos o livro de Cláudio Asquini e Albino Pegorari From Rússia with a Click

A industria de fotografia Soviética nasceu de um modo muito diferente do que acontece na sociedade Ocidental. A Rússia Pré- Revolucionária não possuía propriamente uma industria doméstica de câmaras fotográficas. A pequena indústria Russa de óptica era dominada por empresas estrangeiras, e todas  as câmaras, papel e acessórios eram importados [1]. A indústria Soviética de câmaras emergiu apenas durante o final dos anos 1920 e inicio de 1930, um período de muitas experiências e de agitação social  que se seguiu ao Outubro de 1917.  Revolução Bolchevique seguida de guerra civil. A República Socialista da União de Soviética foi oficialmente criada em 1923, Lenin morreu em 1924, e Estaline começou a implantar seu poder pessoal de influências. No primeiro Plano Qüinqüenal Soviético iniciou-se a produção de câmaras pois era intenção de Estaline desenvolver o potencial industrial e econômico e a transformação da Rússia, num país de grande produção.

A primeira câmara  35 mm da  União Soviética produzida em massa foi a FED [2]. A primeira produção da fábrica  Comuna de Trabalho de Dzerzhinsky  em Kharkov, foi uma furadeira eléctrica de modelo semelhante a um modelo Austríaco. Inicialmente uma colônia para a reabilitação de jovens, A comuna havia sido criada em homenagem a Felix Edmundovich Dzerzhinsky, fundador da polícia secreta Soviética. O indivíduo responsável pelo exclusivo andamento dos trabalhos que a comuna deveria seguir era o seu director, Anton Semyonovich Makarenko, o qual tornou-se célebre, não em fotografia, mas em educação. Sob muitos aspectos, o inicio da história da FED reflete-se em resumo, como a miniatura das alterações que o país passava

 

 

Figura 1. Uma das vantagens de uma câmara miniatura, como visto por `Sovetskoe Foto' (maio 1934).

A FED original foi produzida em limitadíssimo  numero e era uma copia direta da Leica I (um) (1932-33 ) e foi a primeira das muitas imitações da Leica.

 Desta forma, a FED é uma das mais antigas marcas sobreviventes no mundo da fotografia 35mm. Ao ser lançada a Leica II ( D), iniciou-se a produção da FED que já aperfeiçoada também como a Leica II marcava um tento na história da fotografia Soviética (1934). Esta foi a primeira câmara de pequeno formato a ser produzida em massa na União Soviética, e tendo sido produzida practicamente por 20 anos continuamente e sem alterações  tornou-se  a câmara mais vendida no mundo ultrapassando em muito, toda a produção de Leicas de todos os modelos e variantes.

ALEXANDER RODCHENKO E A LEICA


Quando a  Leica original foi introduzida ao mundo, na  Feira da Primavera em Leipzig em 1925, esta mudou o curso do mercado fotográfico como talvez nenhuma outra câmara o tivesse feito antes. O público Russo foi  apresentado a Leica em Maio de 1927 na edição de Sovetskoe Foto [ Retrato Soviético]. Com uma lente Elmax f3.5, A Leica I na época, era vendida por 133 Rublos e 40 copeques. Por volta de 1933, a situação da fotografia na União Soviética era tal que um cidadão Russo, correspondente para uma revista  Britânica, havia escrito: 'Embora não mais importada, a Leica é facilmente a primeira em popularidade. Não necessita filmpacks, nem rollfilm, economizando muito pelo uso de filme de cinema em seus cartuchos' [4].


A popularidade e o sucesso da Leica na Rússia eram devidas em parte, pelo pintor e fotógrafo Alexander Mikhailovich Rodchenko (1891-1956) [5]. Durante o início dos anos 1920, Rodchenko foi fotógrafo de Novyi LEF [ Nova LEF], uma revista editada pelo 'poeta da revolução’, Vladimir Mayakovsky. LEF era um acrónimo para o grupo literário Leva Front Iskusstva  [Frente Esquerda na Arte]. Uma série de fotografias  de Rodchenko apareceu na edição de Julho de 1928, com o cabeçalho: 'Tomadas com câmara Leica usando filme de cinema' [6]. Fotografias não eram normalmente identificadas com o tipo de câmara utilizada, mas neste caso Rodchenko evidentemente queria realçar a nova câmara revolucionária e o novo formato.

 

Figura 2. V. Kovrigin: Alexander Rodchenko no Canal Volga em Moscovo ( início dos 1930s). (de 'Sovetskoe Foto', Abril de 1936.)


Em sua biografia, Rodchenko é descrito como primeiro fotógrafo Soviético a usar uma Leica. Ele era sem dúvidas o mais conhecido. O impacto da Leica em sua carreira foi tal que ele dedicou um capítulo 'A fotografia com Leica’ e uma Leica tornou-se imagem de capa de seu livro. Ele usava a nova câmara  compacta com todo o seu potencial. Dele, são atribuídos trabalhos com Leica, incluindo retratos,  composições, e fotografias documentais, incluindo uma série de vendedores de rua em Moscovo no final da década de 1920, descreve sobre ele, o biógrafo: 'Sua lente registra, as multidões, o alvoroço, o activo comércio de rua da cidade. Vendedores em bando junto às calçadas. Um lhes está a vender um doce; um leve girar da Leica e existe outro, tentando a ti com uma fruta. . . mas o fotógrafo esta mais interessado  na conversa entre o fornecedor e o cliente, fazendo transparecer na foto, suas expressões, e seus gestos’ [7].

 

Figura 3. Alexander Rodchenko: `Menina com uma Leica', c. 1934. (de German Karginov, 'Alekszandr Rodchenko', Corvina, Budapeste, 1975.)


Em muitos de seus trabalhos explorou os efeitos de convergência das linhas e da perspectiva, mostrando pessoas, construções e árvores em atitudes e ângulos invulgares. Contudo, tais experimentações não foram consideradas compatíveis com os conceitos do 'realismo socialista’ e Rodchenko era criticado por ignorar o conteúdo ideológico de suas fotografias [8]. Não obstante, ele foi um criativo pioneiro na fotografia Soviética e fez muito para apresentar e popularizar os novos conceitos da fotografia em 35 mm. Os trabalhos de Rodchenko também apareceram em Sovetskoe Foto e na revista de  grande  formato mensal ilustrada USSR em Construção bem como noutras revistas Russas do começo até ao fim dos anos 1920 e 1930. Ele é um dos poucos fotógrafos Soviéticos a ser representado nas coleções impressas Norte Americanas ( Museu de Arte Moderna e Biblioteca do Congresso).


Desta forma, pouco após a sua introdução, a Leica entrou no modo de ser do cidadão Soviético que começou a tomar hábitos de fotógrafo. Este foi o equipamento de preferência entre todos os modelos estrangeiros de câmaras fotográficas [9], e o resultado foi uma forte procura para um tipo doméstico de câmara padrão Leica

ANTONIO MAKARENKO


Antonio Semyonovich Makarenko era um educador Ucraniano cuja teoria de abordagem na educação teve uma inesperada conseqüência na indústria da câmara Soviética. Embora virtualmente desconhecido nos Estados Unidos, Makarenko é hoje homenageado na União Soviética como um dos mais influentes educadores do período entre a Revolução de 1917 e a Segunda Grande Guerra Mundial. Anos antes de sua morte, também se tornou internamente conhecido como um prolífico escritor, descrevendo suas experiências em contos, artigos e anedotas, alguns dos seus trabalhos tornaram-se clássicos da literatura  Soviética. Seus trabalhos foram publicados em sete volumes em Russo [10] e foram também traduzidos para o Alemão. [11]. Dele, o  trabalho mais conhecido está também disponível em Inglês  “A Estrada para a Existência” [12].

Figura 4. Fotógrafo desconhecido: Fyodor Semyonovich Makarenko, Soviético educador e escritor, director da Comuna Dzerzhinsky, em 1936. (de 'Makarenko, A sua vida e Trabalho’, FLPH, Moscovo, c. 1963.)

 
Makarenko, nasceu em 1888, e iniciou sua  carreira educacional em 1905 como docente na escola da estrada de ferro, da pequena cidade Ucraniana de Kryukov [13]. Aquele ano foi também marcado pela revolução de 1905, um acontecimento que fortemente o havia influenciado intelectualmente. Makarenko ingressava no  Instituto de Docentes de Poltava em 1914, e após graduado com honras em 1917, tornou-se o director do colégio de Kryukov. Seguindo a  Revolução de Outubro de 1917, que ele entusiasticamente apoiava, Makarenko tornou-se altamente esperançoso as novas perspectivas quanto novo curso da educação  Soviética. Por esse motivo, em 1920, o  Narkompros Ucraniano [Comissariado Nacional de Educação] ofereceu-lhe a possibilidade de organizar uma colônia para a reabilitação de besprizorniki, [crianças orfãs e sem lar oriundas dos anos de guerra civil, fome e desorganização social] . Abandonados e vestidos em farrapos, a multidão dos besprizorniki  fundavam-se  ou  vagavam  pelos  campos,  gerando  uma desestabilização  social  muito  grande  pois  viviam  do  crime ou suplicando esmolas. O seu número alcançou milhões ao início dos anos 1920, criando um sério problema social que perdurou por mais de uma década.

Makarenko aceitou o desafio, e em Setembro 1920 uma pequena colônia era estabelecida perto de Poltava na rua principal caminho para Kharkov. A colônia foi relocada duas vezes e cresceu para 400 membros por volta de 1926. Durante sete anos, Makarenko trabalhou com a Colónia Gorky, como ela veio a ser chamada, gradualmente desenvolvendo suas idéias de disciplina do trabalho e da educação colectiva que ele desejava mais tarde implementar na Comuna Dzerzhinsky. A disciplina era semelhante a um regime quase militar. As competições entre equipes de trabalho eram emuladas através de seus ‘comandantes’ encarregados em criar um orgulho de equipe para o bem da comunidade e seus clientes. O trabalho e a educação de forma combinada era a proposta  de formação e educação secundária dos jovens que se conscientizavam  com algumas formas de  trabalho produtivo, que a Colônia Gorky orientava principalmente na área agrícola. Ampliou-se o conceito do trabalho produtivo quando orientou-se para a produção da câmara FED.  O  sucesso de Makarenko com os besprizorniki era uma preciosissima exceção quando comparada com os resultados das demais instituições. Durante estes anos  a experiência da Colônia  Gorky , o ativo Makarenko desenvolveu os fundamentos e métodos educacionais por ele propostos.

A colônia adotou o nome  Colônia M. Gorky [Koloniya imeni M. Gor'kogo] em honra ao escritor Soviético Maxim Gorky.  Makarenko  admirava profundamente  Gorky, e a ação para ele era uma boa forma para a aquisição do respeito das pessoas que passavam a acreditar no mais amplo potencial criativo dos homens. Estes dois homens desenvolviam uma intensa correspondência, e Gorky encorajava Makarenko quando ele eventualmente descrevia sobre suas próprias experiências.
Contudo, a Colônia Gorky não estava completamente agradecida à dedicação de Makarenko. Os oficiais da educação Ucraniana preferiam um sistema mais permissivo sem o regimento militar que lá imperava. Foi pedida a renuncia de Makarenko da colônia Gorky mas em Junho de 1927 era ele convidado a supervisionar a organização da Comuna Dzerzhinsky nas imediações de Kharkov.

 

A COMUNA DE TRABALHO F.E. DZERZHINSKY


A associação da câmara FED com uma jovem colônia é por si só suficientemente improvável, mas o fato que esta colônia era administrado pela polícia Soviética é a mais invulgar de todas  as características. Felix Edmundovich Dzerzhinsky (1877-1926), de cujas iniciais a câmara passou a usar, era o fundador e primeiro chefe da polícia secreta Soviética, ou Cheka como foi originalmente chamada, ao tempo de seu comando, no inicio de 1917. O nome Cheka são iniciais em Russo do seu formidável e impressionante título formal, “Agência Extraordinária de Toda a Rússia Autorizada para Combater a Contra-Revolução, Sabotagem e Especulação”. Por mais assustadora que organização fosse, ela estava aparentemente comprometida nalgumas atividades que não eram exatamente de segurança como por exemplo, a educação e a defesa de crianças de rua e sem lar. Em 1920, o Narkompros propôs a criação de uma  ‘Assembléia de Estado para a Defesa de Crianças’ para negociar o problema com os besprizorniki [14]. Dzerzhinsky leu a oferta e transferiu seu pessoal no sentido de colocar sua própria energia e a energia do Cheka para a solução deste problema. Ele disse: ‘Em relação à Educação, nosso aparelho será eficiente pois entre os Ministérios e Organizações ele já o é. Nossos departamentos estão em toda a parte. Pessoas são observadas. Elas respeitam nossa presença. . .' [15]. No início de 1921, o Comitê Central Executivo de Toda a Rússia (VTsIK) estabeleceu a comissão para a Melhoria da Vida e Sobrevivência de Crianças, com Dzerzhinsky como seu presidente. O anúncio causou um grande alvoroço, e portanto o diário da Narkompros trouxe em seguida um artigo especialmente dedicado a acalmar os seus leitores.

Figura 5. Russo 'besprizorniki' [os sem lar] em 1920s. (de `USSR em Construção, Abril de 1934.)

Nos anos de fome que se seguiram, a situação das crianças de fato evoluiu apenas para pior, mas o gesto de Dzerzhinsky era sempre lembrado. Quando ele morreu em 1926, a policia política Ucraniana, agora chamada de OGPU (Administração Política Unificada de Estado), decidiu construir uma nova comuna para crianças em sua honra [16]. A Comuna de Trabalho F. E. Dzerzhinsky  [Trudkommuna imeni F. E. Dzerzhinskogo] era oficialmente aberta em 29 de Dezembro de 1927. Durante os oito anos da liderança de Makarenko, a instituição ganhou uma boa reputação, e recebeu visitantes de muitos países.

Figura 6.  Fotógrafo desconhecido: Felix Edmundovich Dzerzhinsky, fundador da  polícia secreta Soviética. (de `USSR em Construção, Abril de 1934.)

 Desde o princípio a Comuna Dzerzhinsky se diferenciava da Colônia Gorky. Makarenko já tinha construído e examinado o sistema educacional da Colônia Gorky, e conseguiu aplicar métodos mais confiáveis obtidos anteriormente na Comuna Dzerzhinsky. Aqui ele tinha o pleno apoio das autoridades e era liberado  de desaprovação pela supervisão. E ao contrário da Colônia Gorky, que começou a sua existência nas ruínas de um anterior estado dilapidado, as construções e os cursos práticos da Comuna Dzerzhinsky eram novas, de fato gastadora e pouco econômica em comparação, com a outra mas foi construída e em parte mobiliada por contribuições do escritório local da Cheka.

A princípio a comuna tinha 150 membros, rapazes e meninas alcançando de 13 a 17 anos de idade e este número incluía um núcleo de 50 meninos Colonos  de Gorky. As alas da comuna, ou ‘Kommuna’ como eles a chamavam, tinham ainda possibilidade de receber mais besprizorniki, mas agora mais equipada para o combate a delinqüência. O seu número cresceu para 600 membros  por  volta de 1935.

Os métodos combinados de Makarenko,  Produção, trabalho e educação secundária num sistema politécnico de educação Marxista, procurava eliminar a distinção entre o trabalho físico e o mental. Este era realizado, dividindo-se cada dia em dois turnos de quatro  horas, com um dos turnos, um dedicado para o trabalho produtivo e o outro para instrução  em sala de aula.

Enquanto o trabalho agrícola era o principal destaque da Colônia Gorky, tipos mais complexos de trabalho foram desenvolvidos na Comuna Dzerzhinsky. Inicialmente, a comuna era comprometida em artesanato,  tipo produções, com cursos práticos para serralheiro, carpintaria, sapataria  e costura. A comuna também tinha uma pequena fundição. A produção iniciava com a ajuda exterior de artistas, mas à medida que a comuna vinha se desenvolvendo por seus próprios membros e capacidades, a ajuda exterior era reduzida a um mínimo.

Os produtos fabricados, incluindo indumentária e mobília, inicialmente vieram a servir as próprias necessidades da comuna, mas encomendas de fora eram aceitas também. Neste aspecto, a comuna tornava-se completamente auto- suficiente e suportando economicamente  a instituição, este fato era uma fonte de considerável orgulho aos membros da comuna. No início de 1929, a comuna estava a fabricar e vender vários gêneros de mobília e outros produtos. O rendimento resultante permitia a melhoria das facilidades internas e a expansão das oficinas de carpintaria. A produção de secretárias e cadeiras rapidamente alcançou o nível de milhares de unidades. O valor da produção era levantado diariamente, e logo a  comuna estava pagando ordenados que se erguiam de acordo com a capacidade e valor do incremento  de seus trabalhos. A comuna se desenvolveu no sentido de ter entre seus  membros uma ampla gama de clubes, incluindo drama, vários desportos, fotografia, e serviços diversos. Havia também o ‘Komsomol’ e ‘Pioneiro’ que eram organizações da juventude. A Comuna Dzerzhinsky tornou-se um complexo da comunidade e iria brevemente empreender maiores desafios.

Desta vez a União Soviética começou a passar por excelentes alterações. Estaline consolidou as energias e intentos obtidos no final da década de 1920, e em 1928 lançou o primeiro Plano Qüinqüenal. Os três primeiros anos do Plano Qüinqüenal  transformariam a USSR de um país agrícola, num país industrial, virtualmente  empregando recursos não utilizados e disponíveis pela produção interna, não mais  exigindo grandes importações para preencher suas necessidades econômicas.

Foi a intenção Soviética, como expôs em seus pronunciamentos Lenin e Estaline, estabelecer uma economia autárquica completamente independente e isolada da economia do capitalista mundo [17]. O primeiro Plano Qüinqüenal procurava trazer sobre a venda de atacado, a coletivização de agricultura juntamente com a rápida industrialização, incluindo a construção da indústria pesada, o desenvolvimento dos transportes e criando naturalmente uma couraça protetora de novas fontes de poder. Mas para industrializar em tal curto tempo, A Rússia teria primeiro que confiar fortemente na tecnologia do Ocidente. Livros, investigação, cientistas, técnicos e maquinaria ativa. A Rússia obteria algumas das mais avançadas tecnologias industriais do mundo, sem ter que pagar o formidável custo, em tempo e dinheiro, de experimentação e desenvolvimento [18]. Neste esquematizar, licenças e acordos internacionais eram incorporados sem qualquer pagamento de royalties e o fato que a Leica, por exemplo, era de design estrangeiro, como muitos outros, tornou-se grandemente acidental e irrelevante.

 A  coletivização forçada dos cidadãos resultou na desapropriação de milhões de pessoas, e milhares morreram. Trabalhos forçados empregados na construção de grandes projetos também resultaram em muitas mortes. Makarenko conseguiu sobreviver este período enquanto muitos outros educadores não. Repentinas mudanças em atitudes freqüentemente tinham conseqüências fatais.

Neste período, como conseqüência do sentido para a industrialização e auto-suficiência, foi que a indústria da câmara Soviética nasceu. Em 1929, a primeira câmara EFTE  para chapas era produzida em limitado número pela cooperativa Foto-Trud em Moscovo, e pelo inicio de 1930 lançou-se a EFTE-1 [19]. Uma 9x12 cm dobrável de chapa produzida pela Fábrica Óptico Mecânico Estatal [Gosudarstvennyi Óptico-Mekhanicheskii Zavod ou GOMZ] em Leningrado, a Fotokor tornou-se a primeira câmara Soviética a ser produzida em grande número. Chegou-se a um milhão de unidades o seu fabrico antes do inicio da Segunda Guerra Mundial [20]. Foi concebida ao longo de desenhos Ocidentais e caracterizada por uma lente de quatro- elementos 13,5· cm f4,5· Ortagoz . A produção de câmaras Soviéticas, partiu de zero em 1928-29 para 2973 em 1929-30 e 23 008 em 1931 [21].

O primeiro Plano Qüinqüenal foi coberto virtualmente de todos os êxitos nesta fase de existência da União Soviética, e também foi colocado forte destaque sobre a educação. Escolas eram necessárias para produzir mais pessoas tecnicamente- treinadas e desenvolver a nova parte industrial [22]. A Comuna Dzerzhinsky era afetada em ambas atividades educacional e produtiva. Em Setembro 1930 uma rabfak [faculdade de operários] do Instituto de Engenharia de Kharkov, era estabelecida na comuna com intenção de  trazer os operários-alunos até ao ingresso na universidade. Mais significantemente, a comuna decidiu acrescentar ao complexo, construindo sua própria fábrica de aprendizes e começar uma nova  fase industrial na sua existência. Este empreendimento gerou as fundações para criar a experiência para um projeto ainda mais ambicioso que logo se seguiu.

Usando fundos acumulados da venda de seus produtos, e com o ajuda de um empréstimo do estado, dois novos armazéns foram  construídos para o fabrico de uma furadeira eléctrica portátil. O planejamento começou no início de 1931, e a pedra fundamental  era lançada em 23 de Maio [23]. A comuna levaria um papel ativo na construção do complexo, a casa de maquinas concebida para o fabrico e construção das furadeiras bem como os adicionais quarteirões dormitórios, eram completados em Novembro. Todos os aspectos de planejamento e construção eram realizados em cooperação com qualificados engenheiros, desenhistas e outros especialistas de fora da comuna.

Em Janeiro 1932, a nova fábrica era festivamente recebida; e brevemente a partir daí, foram produzidas as primeiras furadeiras. Elas eram designadas tipo FD-1, e eram oriundas de um modelo Austríaco de furadeiras [24]. O FD que as designava, certamente, significavam Felix Dzerzhinsky. Estes aparelhos eram os primeiros aparelhos eléctricos a serem  fabricados na União Soviética. De fato, um dos os requisitos em decidir o que a comuna iria produzir, era que qualquer que fosse, deveria ser, no sentido de substituir aquilo que se necessitava importar, economizando divisas tão necessárias para o desenvolvimento do país neste período.

Para a cúpula, com as  novas atividades da comuna, o número de comunais foi aumentado para 300, agora com uma média entre 15 e 20 anos, e incluindo 50 meninas. Em finais de 1932, o número alcançou 340 membros, altura em que havia, para além disso, um adulto para cerca de quatro comunais [25]. Estes adultos direccionavam o trabalho; e incluíam engenheiros, técnicos, mecânicos, instrutores, gestores, funcionários e operários contratados  os quais faziam parte das difíceis operações e reparações  de maquinaria. A comuna concorria em todos os aspectos de produção e tinha a oportunidade de treinar  pessoal de várias diferentes capacidades.

Figura 7. K. Kuznetsov: Placa comemorativa da organização da Comuna Dzerzhinsky na cidade Ucraniana de Kharkov em 1927. (de `USSR em Construção, Abril 1934).

A produção de furadeiras eléctricas demonstrou ser um ramo bem sucedido na empresa. Em Junho 1932  decidiram começar a concepção de vários novos modelos [26]. Estas eras baseadas em modelos da Black & Decker dos Estados Unidos e eram designadas FD-2 e FD-3. Uma produção de 11 500 furadeiras eram alcançadas em 1933, principalmente do tipo FD-1.

Figura 8. Fotokors sendo montadas em Leningrado em 1931. Primeiros exemplares possuíam obturadores importados, conforme mostrado aqui. (de `USSR em Construção, Novembro de 1931.)

Figura 9. K. Kuznetsov: As primeiras furadeiras manuais elétricas produzidas na Comuna Dzerzhinsky. (de `USSR em Construção, Abril de 1934.)

Figura 10. K. Kuznetsov: As Furadeiras eléctricas eram produzidas nestas oficinas de dois pisos em 1931.(de 'USSR em Construção, Abril de 1934.)

Figura 11a e 11b. K. Kuznetsov: Jovem comunal  trabalhando em torno aplainador na Comuna Dzerzhinsky em 1934. (de 'USSR em Construção, Abril de 1934.)

Figura 11c : Meninas trabalhando na produção de lentes na fábrica FED

Documento FED (1938)

Figura 11d: Meninos trabalhando no acabamento de peças polidas na fábrica FED

Documento FED (1938)

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